Dilma é vítima de um golpe diz João Vicente Goulart

Dilma é vítima de um golpe diz João Vicente Goulart



Em entrevista ao UOL João Vicente Goulart diz - . Acontece que num momento de convulsão social, que é o que o Moro está procurando, tudo fica muito instável. Se tiver 100 mortos em praça pública nos próximos dias, o Moro vai ter cumprido a sua missão. Ele teria, finalmente, a pacificação através de uma intervenção da força militar. 

João Vicente Goulart tinha sete anos de idade quando viu o pai, o ex-presidente da República João Goulart, ser deposto por um golpe militar em 1964. Hoje, aos 58, ele não hesita em dizer que a presidente Dilma Rousseff (PT) estaria sendo vítima de um golpe. "Sem dúvida. Estamos presenciando uma orquestração muito coordenada. Esse é o nosso grande medo", diz ele. Em entrevista ao UOL, João Vicente, que é filósofo e diretor do Instituto João Goulart, ataca a atuação do juiz federal Sérgio Moro, a quem chama de "fascista". Ele diz ainda que o impeachment, em si, não é um golpe, uma vez que ele está previsto na Constituição Federal, mas afirma que toda a movimentação política para, segundo ele, desestabilizar Dilma é "golpista". Ainda sobre Dilma, ele defende que ela não ceda às pressões. "Renúncia, jamais. Tem que cair de pé", afirma.

UOL - Afinal: a presidente Dilma está sendo vítima de um golpe, ou não?

João Vicente Goulart - Sem dúvida alguma. Estamos presenciando uma orquestração muito coordenada. Esse é o nosso grande medo. Sobretudo para quem, como eu, já passou algumas experiências a esse respeito, como vítimas de 64. A metodologia é diferente, mas existe uma coordenação e semelhança muito parecida. Em 64, vivíamos num contexto de Guerra Fria. Os argumentos usados em 64 eram outros.

Em que ela seria diferente?

Hoje vemos um juiz de primeira instância marcadamente fascista se sobrepondo ao bom senso institucional, se sobrepondo à Segurança Nacional. Ele divulga áudios em um momento de tanta instabilidade que eu não tenho dúvida de que existe um esquema por trás dele. Ele produz esta divulgação maciça entre linhas e, de outro lado, temos uma grande imprensa completamente a favor da deposição do governo, como era em 64. Eu, que vivi um exílio de 13 a 14 anos até voltar ao meu país, estou impressionado. Esse juiz parece um sicário (alguém perverso ou que age com crueldade) de uma ação encoberta. O que houve em 64 com o orientação da CIA, estamos vivendo no Brasil. Temos um centro de poder que é um juiz de primeira instância se sobrepondo à Constituição brasileira e temos uma grande imprensa fomentando e botando fogo nisso.

Seu argumento praticamente ignora as evidências de que este governo esteja envolvido em corrupção e de que este possa ser o verdadeiro motivo por trás da mobilização social contra o governo. O elemento "corrupção" não entra nessa conta?

Você já ouviu falar de Goebbels (Joseph Goebbels, ministro da Propaganda durante o regime nazista)? De tanto repetir uma mentira, ela se torna realidade. Na realidade, existe corrupção. Claro que existe. E tem que apurar a corrupção. Ela precisa ser condenada com os meios que existem institucionalmente, não com os que foram fabricados. Acho que um juiz de primeira instância não pode ter essa irresponsabilidade de divulgar provas que já estavam canceladas. Não estou dizendo que não se deva combater a corrupção. Pelo contrário. Temos que combater, inclusive, a corrupção de todos.

É possível defender um governo envolvido em corrupção diante disso?

Existe o Judiciário justamente para isso. Para que os delitos sejam julgados e condenados. Existem mecanismos institucionais para isso. Como estão sendo feitos. Agora, o que não se pode é sobrepassar a Constituição brasileira. Existe um governo democraticamente eleito.

Defensores do governo afirmam que o impeachment que tramita contra a presidente Dilma é uma medida golpista. Qual a sua avaliação?

O impeachment em si não é golpista. Ele está previsto na Constituição e será decidido pelos parlamentares. Eles são, teoricamente, representantes do povo brasileiro. Mas quantos deles também estão sendo processados pelo STF? Eles teriam que ser impedidos de votar. A questão é simples: temos um processo de impeachment constitucionalmente previsto. Vamos nos ater a isso. O que não pode é tentar se provocar uma ruptura institucional por meio de vazamentos.

O senhor se refere às gravações em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma aparecem conversando? Como o senhor classificaria esses grampos?

Sim. Eles foram divulgados em um momento muito delicado da sociedade brasileira. Ele manda suspender as gravações por volta das 11h23 e lá pelas 14h ele divulga tudo? Qual a legitimidade disso?

Diante do agravamento da crise, o senhor acha que Dilma deveria renunciar?

Evidentemente, não. Renúncia, jamais. Tem que cair de pé. Por que ela vai renunciar se ela foi eleita? Como é que ela renuncia a 54 milhões de votos?

Nos últimos dias, grupos pró e contra o governo estão se enfrentando nas ruas. Como o senhor avalia essa polarização?

O que eu acho é o seguinte: o que o Moro está procurando é o cadáver da nação. Está faltando o cadáver. Querem um cadáver para justificar a intervenção. É muito perigoso isso.

Como o senhor avalia a ida do ex-presidente Lula para o ministério?

Eu acho que é válida a tentativa da presidente tentar nomear o Lula ministro para compor esse vácuo político. Vamos ver o que ele consegue fazer. Ela não tem conseguido governar. Todos os dias, o que a gente vê é um parlamentar falando do outro e um presidente da Câmara dos Deputados que não é apenas investigado ou réu no STF (Supremo Tribunal Federal), mas é um desequilibrado. Vou te dizer o seguinte: quando o Lula disse que o Congresso está acovardado, ele está certo.

Você acha que há espaço político para uma intervenção militar?


Olha, eu espero que não. Acontece que num momento de convulsão social, que é o que o Moro está procurando, tudo fica muito instável. Se tiver 100 mortos em praça pública nos próximos dias, o Moro vai ter cumprido a sua missão. Ele teria, finalmente, a pacificação através de uma intervenção da força militar.

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